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Foto do escritorFelipe Alecrim

3ª PESSOA DO SINGULAR


Ela vicia. É uma droga pesada, o mosquito com a picada mais doída, o combustível mais potente...


Diversos adjetivos que poderiam ser atribuídos a essa paixão de milhares de pessoas espalhadas por aí. Perambulando entre ruas, avenidas, becos, estações, parques e escritórios com seus fones de ouvido. Do discreto ao mais extravagante, do mais caro ao mais simples, juntando qualquer tipo de atividade a ela. Definitivamente ela é uma forma de arte eterna, com inúmeras possibilidades e que pode estar presente em todos os momentos da vida de qualquer um, se encaixando em todos os sentimentos possíveis.


Pra chorar, pra rir, se arrepiar, dançar, gritar, aplaudir entre outras muitas probabilidades.

Essa arte com certeza já proporcionou algum momento especial pra cada um de nós. Com absoluta convicção, afirmo que algum momento que marcou sua vida ela estava lá, porque já ficou comprovado que ela tem essa força: ETERNIZAR MOMENTOS.


Ela já contribuiu (e muito) para o desenvolvimento e entretenimento dessa espécie. Já nos apresentou lendas, gênios e até deuses que atingiram um patamar tão elevado de domínio, que ficarão marcados na história pra todo sempre.


Mas ela também anda frustrando muita gente por aí.


Seu poder é tão grande que atrai muita gente que sonha em se dedicar integralmente a ela, mas infelizmente não é assim tão fácil.


Ta aí uma coisa que não sai da minha cabeça: Ela exige muito de nós ou nós estamos exigindo muito de nós mesmos pelo medo que temos dela? Quantos rascunhos inacabados existem nas gavetas? Quantas ideias deixadas de lado? Quantos sonhos abandonados? Quanta frustação e desilusão estão (também) perambulando por aí? Cada história que pode ser contada por trás de cada fone de ouvido que vemos por aí, nos revela uma imensidão de sonhos não realizados.


Do guitarrista que sonhava em ser o novo Hendrix ao violinista que almejava um lugar na orquestra. Do baterista ao gaitista, do maestro ao percussionista, do trompetista ao baixista e por aí vai. Aquele que passou anos estudando 12 horas por dia e também aquele que aprendeu sem fazer nenhuma aula. Aquele que domina toda teoria por trás de cada harmonia e também aquele que precisa da boa e velha cifra. Os fones de ouvido espalhados por aí podem contar as mais diversas histórias.


Eu não domino nenhum instrumento, mas as vezes me acho baterista, violonista, gaitista, pianista e guitarrista, mas ao mesmo tempo não sou nada disso aí. Geralmente eu sou curioso por novas sonoridades, por aprender algo novo, pra conseguir tocar alguma canção que gosto muito, entretanto eu realmente não posso ser chamado de músico. Muito disso é culpa minha, talvez a falta de foco quando mais novo não me deixou escolher um instrumento e seguir com ele até o fim, até me aperfeiçoar. Talvez a ansiedade me faça querer tocar tudo ao mesmo tempo e pode ser que eu acabei me tornando o melhor multi-instrumentista ruim das redondezas. Mas é que a pretensão de fazer dela o meu ganha pão se esfriou bastante, apesar de ainda dar uma enorme importância a ela em tudo que faço.


Mas, o sonho de viver para ela talvez tenha ficado na adolescência.


Quantos de mim estão espalhados por aí? Quantas histórias parecidas com a minha? Pessoas extremamente (assim como eu) apaixonadas por ela, mas que precisaram partir para outros rumos.


Mas, não quero falar sobre mim, quero continuar falando sobre ela, pois ela é muito mais importante do que qualquer desabafo meu. Não adianta ficar aqui choramingando, eu passo, você passa, todos nós passamos, mas ela continua e continuará sendo mais importante que todos nós. Muitos fazem dela um produto e se preocupam apenas com altos níveis de rentabilidade que ela proporciona. Tudo bem, cada um tem a liberdade de fazer o que bem entender, mas enquanto existir vida nesse planeta, ela terá seu espaço e será ouvida, sentida e interpretada como a mais poderosa expressão artística que o mundo já viu.


Ela pode até nos frustrar, mas tudo isso faz parte. A gente se acostuma e vive numa boa assim mesmo, o poder dela é tão grande que a paixão não acaba nunca. Ela continua sendo nossa droga favorita, continuamos ansiosos esperando pela picada de um novo mosquito e ansiando cada vez mais por altas doses desse combustível que nos move até que os adjetivos acabem.


A mesma MÚSICA que nos derruba é aquela que pode nos ajudar a levantar e seguir adiante.


Ps1. É irônico pensar que nós temos o hábito de eternizar até os momentos ruins. Aqueles que gostaríamos de esquecer completamente, mas quando percebemos já traduzimos esse sentimento em forma de música e vamos passar o resto da vida cantando sobre eles.


Ps2. Elas podem até parar nas nossas gavetas ou serem apenas rascunhadas. Pode até ser aquela que a gente não dá a devida atenção ou o carinho necessário, mas jamais ela sai da gaveta da nossa mente. O sentimento descarregado naquela canção esquecida fica pra sempre e esse peso a gente precisa se acostumar a carregar até o fim.

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